Entendendo a teoria da janela quebrada no desenvolvimento de software

Existem obras que são mais do que clássicas: se tornaram essenciais no desenvolvimento de software. Uma delas é "O Programador Pragmático", publicada por Andrew Hunt e David Thomas na década de 1990. Ainda hoje, o título traz diversos ensinamentos que fazem parte da rotina de devs, como a teoria da janela quebrada, que é o assunto da conversa de hoje no Blog da Caiena.

Em resumo, a teoria da janela quebrada é uma metáfora sobre como ignorar pequenos problemas estimula que os novos também sejam ignorados, gerando um efeito bola de neve que certamente levará a impedimentos maiores no futuro, incluindo no desenvolvimento de software.

Decidimos falar sobre a teoria da janela quebrada no Blog da Caiena porque este foi um dos diversos assuntos abordados durante a última Ruby Empowers. A iniciativa, realizada em sua terceira edição, é uma formação gratuita e remota, oferecida pelo Comitê de Diversidade da Caiena exclusivamente para mulheres.

Na Ruby Empowers, as atividades acontecem no formato “mão na massa”, e as participantes obtêm o conhecimento de forma participativa e prática. Todavia, entender conceitos e teorias é fundamental para a base das carreiras de todas as pessoas em desenvolvimento de software.

*Colaborou Pedro Assis, líder da Área de Engenharia de Software da Caiena.

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• ‍O que é a teoria da janela quebrada?
• ‍Janela quebrada no desenvolvimento de software
• Como evitar as janelas quebradas?

Apesar de nosso foco ser a teoria da janela quebrada aplicada no desenvolvimento de software, é importante saber que ela surgiu a partir de estudos de criminologia, nos Estados Unidos. Este conceito foi elaborado a partir das experiências da polícia de Nova York e outras grandes cidades norte-americanas, onde perceberam um comportamento comum em imóveis abandonados na década de 1980.

Segundo os policiais, as pessoas mantinham um descaso ao encararem um problema, que resultaria em uma situação condenada à perda. Era comum que, quando havia uma janela quebrada em um espaço abandonado, fosse fomentada uma sensação de abandono nas pessoas ao redor. 

A partir disso, outras janelas desse espaço eram danificadas e isso influenciava em mais reações para a deterioração do patrimônio, como o acúmulo de lixo, pixos, danos estruturais, até que este imóvel alcançasse sua pior condição e não pudesse mais ser consertado ou habitado, contribuindo para o aumento da criminalidade local.

Em “O Programador Pragmático”, Hunt e Thomas iniciam a explicação sobre a aplicação da teoria da janela quebrada no desenvolvimento de software abordando o conceito de "entropia". Esta palavra é usada na Física para se referir às desordens de um sistema. Já no universo dos desenvolvedores, essas desordens são chamadas de "deterioração de software". Ou seja, a teoria da janela quebrada se refere à entropia do software.

“Há muitos fatores que podem contribuir para a deterioração de software. O mais importante parece ser a psicologia, ou cultura, em ação em um projeto. Mesmo se você for uma equipe de uma pessoa, a psicologia que envolve seu projeto pode ser algo muito delicado. Mesmo se um projeto tiver grandes planos elaborados e as melhores pessoas, ele ainda pode vivenciar a ruína e a decadência durante seu tempo de vida. No entanto, há outros projetos que, apesar das enormes dificuldades e constantes retrocessos, combatem com sucesso a tendência natural em direção à desordem e conseguem se sair muito bem”.

^{Andrew Hunt e David Thomas em “O Programador Pragmático”.}‍

Portanto, no desenvolvimento de software, a teoria da janela quebrada ensina sobre os riscos de deixar um projeto se deteriorar até se tornar insatisfatório. Isso pode ocorrer por diversos fatores, desde decisões erradas até códigos inadequados para o contexto trabalhado, por exemplo.

Hunt e Thomas aconselham em "O Programador Pragmático" que essas janelas sejam vedadas assim que forem descobertas. Para os autores, ao identificar esse problema no desenvolvimento de software, as medidas necessárias devem ser tomadas imediatamente. Essa atitude impedirá danos maiores e poderá manter a situação sob controle, uma vez que a negligência é o principal fator para aumentar a velocidade da entropia do software, segundo os autores.

A solução para as janelas quebradas também está na forma como as equipes de tecnologia fortalecem suas “vizinhanças”. Para isso, Hunt e Thomas sugerem examinar os ambientes de computação da seguinte forma: “Selecione duas ou três ‘janelas quebradas’ e discuta com seus colegas quais são os problemas e o que poderia ser feito para resolvê-los”. Para completar, os autores propõem que as pessoas envolvidas no desenvolvimento do software observem suas reações e as ideias de solução que pensarem nesse momento.

Vale lembrar que ignorar janelas quebradas também pode impactar na dívida técnica, um assunto que já abordamos na Newsletter da Caiena. Esse termo foi criado para nomear um comportamento similar a de uma dívida financeira em equipes de tecnologia, quando no decorrer do uso de uma solução, acabam-se somando pendências ao priorizarem soluções rápidas e temporárias.

Para encerrar, além de indicar a leitura de "O Programador Pragmático", sugerimos os livros “Programming Ruby" e “The Rails Way”. Eles foram apresentados a nós pelo Pedro Assis, líder da Área de Engenharia de Software e um dos sócios da Caiena, quando ele compartilhou suas dicas para se atualizar em Ruby on Rails aqui no Blog. Também listamos aqui outros livros que são bem populares no desenvolvimento de software para quem busca aprimorar as hard skills. Boas leituras :)